segunda-feira, 30 de julho de 2012

citemor


Chegámos agora a Lisboa, vindos de apresentar philatélie no Citemor, em Coimbra.
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O Citemor é um festival. Apesar de manter alguma actividade em continuidade, tem uma programação essencialmente concentrada em poucas semanas, como é habitual nos festivais. Mas é um festival particular. Tem um tempo particular. Em dois sentidos.
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Primeiro, grande parte dos artistas que vão a cada edição do festival, em Montemor-o-Velho, vão para lá trabalhar – trabalhar de facto nos espectáculos, e não apenas montá-los, apresentá-los e desmontá-los. Cada equipa trabalha num determinado espaço, e as várias equipas encontram-se para refeições conjuntas e também nas esplanadas da praça central da vila, ou nos espectáculos umas das outras, ou à noite depois de uma dia de trabalho. Por vezes estas temporadas servem para acabar um espectáculo, outras para começá-lo. Ou fazem-se experiências curtas, de laboratório, propícias a riscos para os quais nem sempre se encontra disponibilidade. Em qualquer dos casos (e mesmo quando se apresentam produtos mais acabados) a equipa do Citemor opta por acompanhar, em duração, e não por juízos instantâneos. É esse o tempo em que decorre cada edição do festival.
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Segundo, o Citemor mantém relações continuadas com os artistas que programa. Renova-se e apoia artistas novos (por vezes desde os primeiros trabalhos), varia de edição para edição, mas privilegia o retorno. É assim que os artistas desenvolvem relações com o festival e o seu amplo público, e também com outros artistas. As relações são coisas que se constroem ao longo do tempo. É esse o tempo que o festival promove ao longo das suas sucessivas edições.
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Tudo isto parece bastante romântico. Ou: é romântico. Mas é também bastante político. O tempo do Citemor é, na verdade, contrário a tudo o que determinam as “leis de mercado”. É, com uma coerência e uma perseverança invulgares, anti-capitalista. E, nessa medida, é um exemplo raro para se pensar em “política cultural” com alguma profundidade política (e também para se pensar em “para que serve acumular anos de existência”).
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29 de Julho de 2012
mv

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