quinta-feira, 24 de abril de 2008

a política é performativa

A comunicação política destinada às massas reveste-se de grandes preocupações de ordem performativa. Quer em situações nas quais o contacto com o eleitorado é directo, como um comício, quer quando esse contacto é tão mediado como num tempo de antena de campanha eleitoral, trata-se quase sempre de construir um espectáculo de imagens e sons no qual o discurso propriamente dito é um componente. Adquirem uma importância determinante todos os recursos que permitem compor a comunicação e – esse é o seu objectivo – optimizar a capacidade persuasiva dessa comunicação. Se no âmbito artístico a verosimilhança foi amplamente relativizada enquanto valor, pelo contrário a comunicação política é cuidadosamente montada com vista à verosimilhança e à persuasão. É decisivo na política, mais do que na arte, que a comunicação seja apresentada, não só como verdade, mas também como uma verdade sedutora e empolgante. E este é um efeito procurado pelos políticos independentemente das respectivas ideologias, ou seja, é um efeito que, no contexto político, tem um valor autónomo – o mesmo que tem no contexto da publicidade.


Tanto a eficácia do espectáculo político, como a eficácia da publicidade, vivem de uma relação entre realidade e ficção que tende a ser paradoxal: quanto mais astuciosamente idílica for a ficção, melhor ela é capaz de convencer o seu «público» a adoptar uma determinada convicção sobre a realidade. A verdade não é meramente aquilo que tem correspondência com o real, mas é sobretudo aquilo que é capaz de ter a aparência de verdade, ou até, no limite, aquilo que é suficientemente sedutor para afastar a questão do que é, ou não, verdadeiro. Quem é mais real? Che Guevara ou o Tio Sam? Platão ou o Robin dos Bosques?

1 comentário:

miguel loureiro disse...

quando a retórica é estimulante há fortes possibilidades do tio sam ou do robin dos bosques acederem ao mesmo plano das vetustas figuras acima mencionadas...assim que me lembre a última vez que isso aconteceu terá sido com Ulisses...?...