A mala voadora e o Teatro Oficina estão a trabalhar
juntos. É o resultado de uma relação criada na Capital da Cultura, quando
viemos para Guimarães residir e apresentar o espectáculo dead end. Mantivemo-nos em contacto. Propusemos colaborar. O Marcos
Barbosa propôs-nos dois textos de autores americanos (na verdade, de dois
autores que gostaríamos de experimentar): Title and Deed
de Will Eno e The Day Room de Don
DeLillo. E estamos a fazer uma troca. No
primeiro espectáculo, o encenador Marcos Barbosa, do Teatro Oficina, dirige o
actor Jorge Andrade, da mala voadora. No segundo, o encenador Jorge Andrade, da
mala voadora, dirige um elenco no qual se juntam actores de ambas as
companhias.
.
O
protagonista de Title and Deed surge
no palco como um viajante que, na sua errância, encontra o público da sala.
Explora essa situação de encontro. Mais do que delinear uma narrativa, deambula
por coisas que lhe ocorrem. Refere-se ao que lhe é familiar e ao que lhe é
estranho. Tenta construir um quadro ontológico para si próprio, entre a
possibilidade de existir um lugar com o qual sinta familiaridade e a de não
existir. Aquilo que diz mantém-se entre a possibilidade de o actor estar a
mentir (a fazer um “papel”) e estar a dizer a verdade (de estar a falar como o
“actor num palco” que ele de facto é). Mantém-se, ironicamente, entre o teatro
e a meta-teatralidade. Em gíria teórica, poderia dizer-se que é um texto com
uma ironia “pós-metateatral” ou “meta-metateatral”. São expressões muito feias,
é verdade, mas é por causa dessa ironia que gostamos tanto deste texto que o
Marcos nos propôs.
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